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A PETROBRÁS E O DISCURSO “OLEOCRATA” QUE FEDE A NAFTALINA

Atualizado: 8 de abr.

Por: Renato Zimmermann – Mentor e Consultor em Energias Renováveis e Sustentabilidade



A naftalina é um hidrocarboneto aromático que produz um cheiro forte e tóxico, mantêm distante das roupas as baratas, insetos e traças em guarda roupas, armários e gavetas. A naftalina, é um derivado do petróleo que é um composto orgânico produzido a partir da decomposição de matéria orgânica por milhares de anos em ambientes sem oxigênio.  


O petróleo já foi o sonho de consumo das sociedades modernas. Quem se lembra das historinhas em quadrinhos do Tio Patinhas e da alegria ao encontrar um poço de petróleo no quintal de casa? Quantos desenhos animados nas telas de tevê atiçaram o sonho das crianças em encontrar o seu poço de petróleo e extrair o tal “ouro negro”?


Junto ao desenvolvimento dos produtos a base de petróleo criamos uma sociedade pulsante e dinâmica. Novidadesforam surgindo a partir dos seus derivados e muitos negócios surgiram e prosperaram. A indústria de petróleo já teve seus altos e baixos, sempre orquestrado por um pequeno grupo de famintos e ambiciosos empresários e governos. Assim se formou um famigerado cartel chamado OPEP- Organização dos Países Exportadores de Petróleo.  


No auge da corrida pelo “ouro negro”, em 1953 o presidente Getúlio Vargas criou uma estatal chamada PETROBRÁS.  Na época as discussões foram levadas ao Congresso Nacional e acalorados discursos dividiam o parlamento entre um grupo a favor do monopólio chamado de “ultranacionalistas” e outro que era a favor da exploração do petróleo pela iniciativa privada, oschamados “entreguistas”.  


Numa época em que a mídia centralizava e filtrava o que era informado à sociedade, os discursos em plenários eram mais rebuscados, despreocupados e romantizados do que os atuais, como descrevemos abaixo um discurso de 1953 de um senador da ala ultranacionalista, KerginaldoCavalcanti (PSP/RN):


O Brasil precisa ficar abroquelado [protegido] contra os assaltos sorrateiros do capitalismo internacional, da Standard Oil e de outros trustes exploradores, contra a possibilidade de perdermos os frutos daquilo que Deus colocou no seu subsolo para cintilar mais brilhantemente sob as estrelas do Cruzeiro do Sul”. Diferente não ? Atualmente não escutamos discursos bonitos assim e com esta desenvoltura, talvez o romantismo tenha sucumbido ao pragmatismo político atual.  Nada mais justo.


Muitos outros discursos estão no arquivo do Senado Federal, aliás, tão antigos que devem ter o odor da naftalina pois eram manuscritos ou datilografados antes de terem sido digitalizados.


Mas a vida segue, e as consequências desta opção peloscombustíveis fósseis para geração de energia trouxe não apenas o progresso, mas também um novo estilo de vida e muita abundância financeira. Com a prosperidade começamos a ter hábitos consumistas e um aumento populacional com demanda ainda maior por alimentos e energia.  Não vamos mencionar as guerras, as mortes e os governos tiranos que se utilizaram do “ouro negro” como fonte de financiamento, vamos nos concentrar na questão ligada com a sociedade moderna democratizada, e por conta disso vamos trazer o tema para a questão daPOLUIÇÃO.  


Os primeiros estudos sobre poluição são recentes, remontam a 1920, pouco mais de 100 anos atrás. E estes estudos já começavam a apontar estragos irreversíveis ao meio ambiente pela atividade humana e seu consumismo desenfreado. Este efeito poluidor ocasionou uma aceleração de milênios na degradação do planeta que em 2024 sofre com nossa emissão de gases de efeito estufa oriundos da queima dos combustíveis fósseis agregando a isto mais ingredientes como a degradação das florestas, queimadas e produção de lixo.


Por conta disso, nossa matriz energética precisa urgentemente mudar de rumo, a palavra sustentabilidade tem como principal objetivo garantir que as futuras gerações tenham um planeta habitável. Sustentabilidade não é para nós, é para nossos descendentes que viverão nos próximos séculos. Então talvez o que a maioria da sociedade ainda não teve consciência é que as ações de hoje é para salvar a vida humana futura. Para nós tudo bem! Conseguiremos sobreviver mais algumas boas décadas gozando os prazeres de uma boa e abundante vida inundada por divertimento e distrações.


O que o estilo de vida social tem a ver com a empresa da Petrobrás e o seu discurso? Vamos chegar lá. Primeiro precisamos entender que tudo está conectado e qualquer ação de uma nação ou de uma atividade econômica acaba por afetar todo nosso planeta. Já notaram como nossoplaneta está ficando pequeno? Parece que nossas ambições enquanto seres humanos já não cabem no pequeno espaço. E aqui vem a conexão pois a Petrobrás tem uma ambição descabida de ser a protagonista da transição energética, ao menos isto está no discurso do presidente da companhia, Jean Paul Prates, um oleocrata de carteirinha assinada que não representa os anseios da sociedade brasileira. Seu discurso de que a Petrobrás é uma empresa “petroleira” que vive de combustível e gás. Por ser a maior empresa poluidora do Brasil, a empresa está virando as costas para uma visão mais contemporânea de ser uma empresa de “energia”. Este discurso petroleiro tem objetivo endereçado ao caixa do governo que precisa fazer do cidadão brasileiro uma maquininha caça níqueis, lhe entregando gasolina para o carro de combustão e assim ter uma confortável fonte de receita principal. Afinal 60% do valor do litro do combustível fóssil é de impostos e encargos cobrados antecipadamente lá na refinaria. Ou seja, a Petrobrás se encarrega de cobrar antecipadamente o imposto de toda as cadeias de comercialização e já coloca no caixa dos governos.


Quem vive a ilusão das propagandas do “petróleo é nosso” que “vamos furar poços onde bem entendermos” e “viva a soberania nacional” passa a contribuir para estadegradação acelerada do planeta, e não permite o crescimento do mercado de carro elétrico que é baseadoem fontes limpas como o sol, as águas e os ventos.  


Este fedor de naftalina enche os bolsos não apenas dos governos locais e federais, mas também dos milhares de investidores privados ávidos pelos gordos dividendos das ações na bolsa de valores que financiam a degradação do planeta em prol do aumento do saldo de suas contas bancárias individuais.


Não podemos acreditar que o presidente da Petrobrás se mantenha neste cargo por muito mais tempo, seria uma vergonha para o Brasil se em 2025 em plena COP 30 tivermos uma diretoria comprometida com a oleocracia,deixando a conta para as futuras gerações pagarem.


Sejamos conscientes ao menos de que estamos errados e que políticas públicas e incentivos para abandonarmos os combustíveis fósseis sejam criados e adotados com força de lei. Até o momento não sentimos outro odor que não seja o discurso atrasado e inconveniente dos dirigentes da Petrobrás, e que a troca do seu presidente ocorra logo (já vai tarde!) trazendo assim uma brisa de orvalho de um belo novo dia de novos tempos. Ainda dá tempo de sentir este aroma de um planeta limpo e saudável.

 

 

 

 

 

 


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